Enquanto as emissoras de televisão esgotavam seus telespectadores durante o final de semana com notícias e análises da tragédia ocorrida em Paris, na última sexta-feira, os usuários do facebook se digladiavam na rede, ora expressando um patriotismo que não têm, ora tentando definir se o rompimento de barragem em Mariana (MG) deveria ter o mesmo tratamento da mídia que o ocorrido na França.
Vale dizer, antes de mais nada. que inferiorizar qualquer tipo de morte ou tragédia é nivelar o ser humano por baixo. Todas as vidas tém o mesmo valor, todos os acidentes devem ser esmiuçados para evitar casos parecidos no futuro, todos os culpados devem ser punidos e todas as dores devem ser respeitadas.
Dito isso, por que Paris me comoveu mais?
A barragem Fundão, no distrito de Mariana, região Central de Minas Gerais, que se rompeu em 5 de novembro, pertence à Samarco, que produz pequenas bolas de minério de ferro usadas na produção de aço. A atividade mineradora responde, atualmente, por 80% da arrecadação da cidade. Segundo a Polícia Militar de Meio Ambiente, a empresa foi fiscalizada há dois anos e nenhum problema foi encontrado. Sendo assim, e apesar de todas as
consequências sociais e ambientais, há grandes características de acidente no caso. Algumas teorias apontam para negligência, tanto da Samarco quanto da fiscalização. Talvez. Para tanto, punições e indenizações já estão sendo definidas. Conhecer os verdadeiros responsáveis significa a possibilidade de se fazer justiça.
Em Paris, a onda de atentados da sexta-feira, 13 de novembro, foi reivindicado prontamente pelo Estado Islâmico. E o que é o EI? Um grupo que estabeleceu uma forma de Estado, dirigido por um líder político e religioso de acordo com a lei islâmica, e que, até onde se sabe, controla um território que engloba partes da Síria e do Iraque. Ou seja, institucionalmente ele não existe. Até o momento, não se sabe ao certo quem arquitetou os ataques, se todos
os alvos foram atingidos, se a missão está completa ou foi executada apenas em partes. As motivações das ações são nebulosas e resumir em um grande Fla x Flu entre cultura e costumes do Oriente e do Ocidente é raso e não levará a solução alguma. O que aconteceu em Paris não é passível de indenização. E as punições impostas, como o bombardeio na Síria. só gerarão ainda mais dor.
Em Mariana, um acidente, que até pode ser conquéncia de negligência, causou comoção. Em Paris não houve acidente. O homem quis matar. E isso me faz perder mais um pouco da esperança que ainda resta no ser humano.